Sumários Revista Crítica 73 (2005)

Laura Cavalcante Padilha
Da construção identitária a uma trama de diferenças – Um olhar sobre as literaturas de língua portuguesa

A partir de um olhar sobre produções literárias afro-luso-brasileiras, discute-se, neste ensaio, a questão da língua portuguesa, a sua expansão e a trama de diferenças que abriga. Para cumprir este objectivo mais abrangente, abordam-se duas construções simbólicas que acabam por se suplementarem quando, partindo do domínio linguístico, se fazem constructos mais amplos. Em primeiro lugar, é focalizada a questão do lusismo, lido como uma construção identitária que, no espaço da criação artístico-verbal portuguesa, se projecta, de princípio, de modo eufórico, para depois se problematizar, até se tornar, muitas vezes, disfórico. Em seguida, é discutida a lusofonia, percebida, com Eduardo Lourenço, como uma “mitologia” que só encontra sentido se se tomarem em conta, de um lado, as identificações existentes entre os vários falantes intercontinentais da língua e, de outro, as diversidades pelas quais esses mesmos falantes se distinguem profundamente.

Maria Ioannis Baganha
Política de imigração: A regulação dos fluxos

O presente artigo tem como principal objectivo analisar como é que os vários governos, desde a entrada de Portugal na Comunidade Europeia até hoje, regularam a imigração e quais os objectivos que se propuseram atingir com essa regulação. O trabalho baseia-se essencialmente na análise de dois acervos documentais, a saber: documentos legais que enquadram a entrada em território nacional de imigrantes não comunitários, bem como os diplomas legais que estabeleceram períodos de regularização extraordinária de estrangeiros ilegais; e intervenções governamentais na Assembleia da República aquando da apresentação de pedidos de autorização legislativa relativos à entrada em território nacional de estrangeiros não comunitários ou ao lançamento de campanhas de regularização de estrangeiros em situação de ilegalidade. Com base na análise da documentação referida, a autora defende que a política de regulação dos fluxos nunca atingiu os seus objectivos, tendo o sistema de regulação falhado sucessivamente, obrigando a períodos de legalização extraordinária.

Paulo Henrique Martins
A sociologia de Marcel Mauss: Dádiva, simbolismo e associação

Marcel Mauss é mais conhecido como antropólogo e etnólogo. Muitos ficam surpreendidos ao saber que ele também tem uma relevante contribuição sociológica, que é comprovada tanto por ter sido um dos principais animadores, juntamente com Durkheim, da revista Année Sociologique, como por ter sido o principal sistematizador da teoria da dádiva, que vem sendo resgatada como um modelo interpretativo de grande actualidade para se pensar os fundamentos da solidariedade e da aliança nas sociedades contemporâneas. Um das contribuições centrais de Mauss para a sociologia foi demonstrar que o valor das coisas não pode ser superior ao valor da relação e que o simbolismo é fundamental para a vida social. Ele chegou a esta compreensão a partir da constatação de que as modalidades de trocas nas sociedades arcaicas não são apenas coisas do passado, tendo importância fundamental para se compreender a sociedade moderna.

Maria Alice Nunes Costa
Fazer o bem compensa? Uma reflexão sobre a responsabilidade social empresarial

Este artigo apresenta uma visão panorâmica da actual gestão de negócios, denominada de responsabilidade social empresarial, desenvolvida a partir dos anos 1990. Nesse contexto, busca-se compreender as implicações políticas desta forma de solidariedade social, em que agentes económicos intervêm no espaço público, a partir da promoção de políticas de bem-estar social para comunidades de baixa renda. Nesse sentido, a intenção é reflectir sobre a responsabilidade social empresarial, não de maneira isolada, mas a partir de uma expressão que se desenvolve de maneira dinâmica, em interface com o Estado e a comunidade, na governação da regulação social contemporânea.

Jacob Carlos Lima
Novos espaços produtivos e novas-velhas formas de organização do trabalho: As experiências com cooperativas de trabalho no Nordeste brasileiro

Este artigo analisa a nova industrialização do Nordeste brasileiro, resultante de políticas de atracção industrial a partir dos anos 90 e caracterizada por incentivos fiscais a indústrias de uso de trabalho intensivo, como calçados e confecções, e pela indução de organização de cooperativas de trabalhadores para externalizar a produção e reduzir os custos com a mão-de-obra. Esse processo foi mais significativo no estado do Ceará. As cooperativas foram instaladas no interior do estado, com oferta abundante e barata de mão-de-obra sem outras opções de emprego e com inexistência de actividade sindical. Esse processo ocorreu num contexto de reestruturação económica e mudanças políticas de carácter neoliberal do Estado brasileiro, marcado pela abertura do mercado interno às exportações, a desnacionalização de sectores produtivos, a relocalização industrial e a modernização tecnológica.

João Carlos Graça
Afinal, o que é mesmo a Nova Sociologia Económica?

Situada algures entre a economia e a sociologia, a sociologia económica tem tido um estatuto teórico instável e um reconhecimento académico limitado. Mais recentemente, o projecto da chamada Nova sociologia Económica, para além da diversidade de empreendimentos acolhidos, tem vindo a ser definido com base em postulados que rejeitam quer o modelo do “agente racional”, quer o determinismo cultural que celebrizou a sociologia parsoniana, optando-se por postulados metodológicos de “terceira via”, nos quais predomina uma racionalidade balizada por molduras culturais. Haverá razões para questionar a coerência e a viabilidade intrínsecas daquilo que a NSE representa? Poderá ela própria ser considerada não tanto do ponto de vista da consistência do seu projecto teórico, mas sobretudo como um assunto de redes small world académicas?

Published 10 April 2006
Original in Portuguese

Contributed by Revista Crítica de Ciências Sociais © Revista Crítica de Ciências Sociais Eurozine

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