Sumários Revista Crítica 71 (2005)

JOSÉ MANUEL PUREZA & TERESA CRAVO
Margem crítica e legitimação nos estudos para a paz

Os Estudos para a Paz, constituídos historicamente como conhecimento crítico e, portanto, alternativo à ciência normal em Relações Internacionais, vieram, nos anos noventa, a ser cooptados pelas estruturas de regulação do sistema internacional como fundamento de muitas das opções postas em prática sobretudo no quadro dos processos de reconstrução pós-bélica. Neste contexto, o resgate da linhagem crítica dos Estudos para a Paz implica hoje duas opções radicais. A primeira é a da qualificação da paz pretendida como paz sustentável. A segunda é a da descolonização epistemológica dos Estudos para a Paz.

HÅKAN WIBERG
Investigação para a Paz: Passado, presente e futuro

O percurso de afirmação da Investigação para a Paz como disciplina assinala diferentes momentos de crise de identidade, expressos em densos debates epistemológicos. Como resultado desse crescimento dilemático, a Investigação para a Paz continua hoje atravessada por três questões conformadoras essenciais que este texto procura delimitar. A primeira é a do alcance da sua orientação para valores e políticas concretas. A segunda é a do seu lugar num território cognitivo disputado. E a terceira é a da densidade conferida à não-violência nos processos de transformação política.

VICENT MARTÍNEZ GUZMÁN
Filosofia e investigação para a Paz

Como seres humanos, temos competências para organizar as nossas relações, fazendo uso da guerra e de qualquer outro tipo de violência estrutural, cultural ou simbólica, que suponha a marginalização, exclusão e morte de uns seres humanos por outros e a degradação do ambiente. Mas também é certo que temos competências para organizar as nossas relações de forma pacífica: exprimindo ternura ou carinho nas relações interpessoais ou criando instituições de governação locais, estatais ou globais que promovam relações humanas baseadas na justiça e relações com a natureza baseadas na sustentabilidade. Neste contexto, o desafio filosófico dos estudos para a paz é a reconstrução normativa das nossas competências para fazer as pazes.

JOHAN GALTUNG
Três formas de violência, três formas de paz. A paz, a guerra e a formação social indo-europeia

Nas formações sociais, as formas de violência coexistem com as formas de paz. O presente artigo analisa a coexistência, na formação social indo-europeia, da violência cultural (produção de ideias justificativas das demais violências) com a paz cultural (cooperação e comiseração com todas as formas de vida); da violência directa (eliminação física do outro) com a paz directa (formas de controlo não-violentas, com sanções positivas); e da violência estrutural (mecanismos sistémicos de injustiça e morte) com a paz estrutural (satisfação das necessidades básicas e distribuição de bens e serviços).

TATIANA MOURA
Novíssimas guerras, novíssimas pazes. Desafios conceptuais e políticos

Este texto pretende dar conta da emergência de um novo tipo de violência armada organizada (novíssimas guerras), que ocorre a uma escala cada vez mais micro mas se manifesta, tal como as novas guerras, a nível global. São duas as finalidades desta conceptualização: por um lado, tornar visíveis e “reais² contextos que têm sido considerados marginais, e que podem constituir o prelúdio de uma conflitualidade (ainda) mais disseminada no futuro; por outro lado, lançar o desafio de pensar e encontrar novos caminhos que respondam às inseguranças provocadas por este tipo de novíssima guerra.

RODRIGO TAVARES
Por que é a Europa uma região pacífica? Um novo quadro de análise

Apesar de o processo de pacificação da Europa ter tido início nos anos 50, foi a queda do Muro de Berlim, em 1989, que originou um crescimento exponencial de publicações vocacionadas para a descrição e explicação deste fenómeno. Após o entusiasmo teórico inicial, o actual decréscimo dos produtos da investigação é inversamente proporcional ao crescimento de laços de integração na União Europeia. Este artigo defende que as velhas ferramentas epistemológicas de compreensão da pacificação da Europa se tornaram obsoletas por estarem enraizadas num contexto regional ultrapassado. De forma a ultrapassar esta limitação, apresenta-se um novo quadro de interpretação baseado na ideia de Paz Regional e Aglomerados de Segurança (PRAS). A PRAS Europeia é abordada numa perspectiva histórica e abrangente.

ELÍSIO ESTANQUE
Trabalho, desigualdades sociais e sindicalismo

A área laboral tem vindo, nos últimos anos, a ser fustigada por um vasto conjunto de transformações, no contexto da economia global em que vivemos e sob os efeitos de diversas forças e instituições de âmbito transnacional. Recorrendo a exemplos retirados de estudos empíricos recentes desenvolvidos pelo autor, o presente artigo analisa e discute os processos de mudança em curso, partindo dos problemas ligados ao mundo do trabalho e articulando-os com a questão mais geral das desigualdades e das classes sociais. O principal objectivo é diagnosticar e interpretar criticamente algumas dessas transformações na sociedade portuguesa, mostrando a sua relevância, significado e implicações para o sindicalismo. Assim, após uma reflexão crítica sobre as novas linhas de segmentação do mercado de trabalho e das desigualdades sociais, procura-se apontar um conjunto de questões dirigidas ao campo do sindicalismo, convidando à reflexão e análise crítica das experiências e problemas com que o mesmo se debate.

HERMES AUGUSTO COSTA
A política internacional da CGTP e da CUT: Etapas, temas e desafios

Apesar de existir enquanto política no seio das organizações sindicais nacionais, a política de relações internacionais (PRI) configura-se, todavia, como “parente pobre² do sindicalismo nacional. Depois de enunciar brevemente, na primeira parte, alguns dos obstáculos actuais à construção de uma PRI, este texto debruça-se, na segunda parte, sobre o espaço que as duas principais centrais sindicais de Portugal e do Brasil (a CGTP e a CUT, respectivamente) vêm conferindo à PRI. Partindo do trabalho de investigação realizado nos últimos 5 anos junto daquelas organizações sindicais, propõe-se uma distribuição das fases da PRI da CGTP e da CUT, sintetizando-se, na terceira parte, algumas semelhanças e diferenças entre ambas a esse respeito.

Published 14 July 2005
Original in Portuguese

Contributed by Revista Crítica de Ciências Sociais © Revista Crítica de Ciências Sociais Eurozine

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