Revista Crítica de Ciências Sociais
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Revista Crítica de Ciências Sociais
2011-11-20
Sumários Revista Crítica 93 (2011)
David Alexander
Modelos de vulnerabilidade social a desastres
Neste artigo discutem-se as bases teóricas da avaliação da vulnerabilidade social aos desastres e mostra-se que a vulnerabilidade é a componente mais importante do risco e o elemento principal dos impactos dos desastres. Recorre-se a um modelo de metamorfose cultural para explicar as mudanças e as discrepâncias nas atitudes em relação aos desastres e aos processos de recuperação, que é aplicado à análise do caso do terramoto de L'Aquila. Propõe-se um novo modelo em que a cultura e a história se combinam com os perigos físicos para influenciar a vulnerabilidade.
Marcelo Firpo de Souza Porto
Complexidade, processos de vulnerabilização e justiça ambiental: um ensaio de epistemologia política
O artigo discute as potencialidades e limites do conceito de vulnerabilidade utilizado na análise integrada de problemas socioambientais. Concentra-se em duas perspectivas: a primeira tem origem na proposta da ciência pós-normal, entendida como uma nova base epistemológica e metodológica para a análise e enfrentamento de problemas ambientais complexos. A segunda incorpora os contributos de autores que têm atuado na discussão teórica e prática militante em torno dos conflitos ambientais, em especial junto à Rede Brasileira de Justiça Ambiental.
Susan L. Cutter
A ciência da vulnerabilidade: modelos, métodos e indicadores
O artigo descreve os instrumentos e os métodos para medir e cartografar a exposição ao risco (vulnerabilidade física), a medição e a cartografia da propensão das populações para os riscos (vulnerabilidade social) e a intersecção desses dois aspectos nas análises baseadas nos locais. A intersecção da vulnerabilidade física e da vulnerabilidade social cria a paisagem dos riscos (hazardscape) que, por sua vez, ajuda os investigadores a compreender os impactos diferenciados dos riscos e dos desastres nos locais e nos respectivos habitantes.
Alexandra Aragão
Prevenção de riscos na União Europeia: o dever de tomar em consideração a vulnerabilidade social para uma protecção civil eficaz e justa
Neste artigo defende-se que conceber as políticas de protecção civil de modo a proteger quem mais precisa (tanto no momento da crise como no período de recobro), além de mais justo, é mais eficaz. O conhecimento das vulnerabilidades e da resiliência dá origem a uma protecção civil mais sustentável nos planos social, ambiental e até económico, permitindo legitimar estratégias de protecção civil, racionalizar recursos, hierarquizar objectivos e fundamentar prioridades.
José Manuel Mendes, Alexandre Oliveira Tavares, Lúcio Cunha e Susana Freiria
A vulnerabilidade social aos perigos naturais e tecnológicos em Portugal
O artigo apresenta um novo modelo de análise da vulnerabilidade social aos perigos naturais e tecnológicos, utilizando um índice que incorpora duas dimensões de avaliação: as vulnerabilidades das populações e comunidades (criticidade) e a vulnerabilidade territorial (capacidade de suporte). Com base na aplicação desse índice ao sistema territorial de Portugal continental, defende-se que a cartografia das áreas e dos grupos mais vulneráveis, bem como a identificação dos factores desencadeantes, podem constituir um contributo relevante para os programas de ordenamento e de planeamento destinados a mitigar os riscos e as vulnerabilidades do território.
Jörn Birkmann, Korinna von Teichman, Torsten Welle, Mauricio González e Maitane Olabarrieta
O risco não percepcionado para as zonas costeiras da Europa: os tsunamis e a vulnerabilidade de Cádis, Espanha
O desenvolvimento de estratégias apropriadas de redução de riscos e de vulnerabilidades para lidar com os riscos de tsunamis é um desafio importante para países, regiões e cidades a eles expostas. Este artigo descreve a forma como os riscos da ocorrência de tsunamis e, em particular, a vulnerabilidade a esses riscos podem ser avaliados e medidos. Com o objectivo de destacar os desafios e lacunas com que uma avaliação deste tipo tem de lidar, apresenta-se um estudo de caso relativo à avaliação de vulnerabilidade na cidade de Cádis.
Alexandre Oliveira Tavares, José Manuel Mendes e Eduardo Basto
Percepção dos riscos naturais e tecnológicos, confiança institucional e preparação para situações de emergência: o caso de Portugal continental
O artigo avalia a percepção dos riscos em Portugal continental e o grau de confiança institucional, recorrendo a um inquérito a uma amostra representativa dos cidadãos portugueses maiores de idade. Os resultados mostram o papel crucial da diferenciação territorial e da escala nos riscos percepcionados. A avaliação do grau de confiança institucional em caso de desastre mostrou um elevado nível de confiança nas instituições de emergência e socorro, assim como uma apreciação positiva sobre as fontes de comunicação de risco. Ressalta a capacidade adaptativa dos cidadãos a práticas mais resilientes e a referenciais superiores de segurança.