Revista Crítica de Ciências Sociais
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Revista Crítica de Ciências Sociais
2008-10-28
Sumários Revista Crítica 81 (2008)
Elísio Estanque
Jovens, estudantes e "repúblicos": Culturas estudantis e crise do associativismo em Coimbra
O presente texto desenrola-se a partir de uma breve reflexão sobre as tendências de mudança no universo juvenil e estudantil (nomeadamente o significado actual dos movimentos sociais dos anos 60) e caracteriza as sociabilidades, as práticas e as orientações subjectivas dos estudantes da Universidade de Coimbra (UC), procurando relacionar as lutas do passado e a sua memória com os desafios que se colocam hoje à participação cívica e associativa. Merecem especial atenção aspectos como: a tradição festiva e ritualista da academia; as atitudes e subjectividades perante a vida social; o papel da associação de estudantes e a importância das suas actividades; e a participação nas acções associativas e de protesto público. Baseado num conjunto de dados recolhidos através de um inquérito representativo do universo estudantil da UC, o artigo discute algumas tendências recentes neste domínio e analisa os resultados considerando diferentes segmentos de estudantes, nomeadamente os residentes nas chamadas "Repúblicas" e o sector feminino.
Colin Barker
Some Reflections on Student Movements of the 1960s and Early 1970s
This article considers the rise and decline of student movements in Europe and America during the 1960s and 1970s. Drawing on materials on student movements in a number of countries, it assesses their historical significance, in the context of a larger "protest wave' with which the student movements of the period intersected. Relating these movements to students' changing position within advanced capitalism, it suggests that their dynamics were shaped both by the specific characteristics of students as political actors and by the patterns of their inter-relations with other contemporaneous movements. The article concludes by noting more recent developments, suggesting that the story of student movements still offers interesting new possibilities.
Miguel Gómez Oliver
El Movimiento Estudiantil español durante el Franquismo (1965-1975) (p. 93 110)
Procede-se neste artigo a uma caracterização do movimento estudantil universitário espanhol durante as décadas de 1960 e 1970, observando-o enquanto instrumento fundamental na criação de espaços de liberdade na Espanha franquista, analisando o seu desenvolvimento orgânico, a sua capacidade para alimentar o desenvolvimento de uma cultura de debate, e examinando o papel que desempenhou na aprendizagem de práticas democráticas que depois foram transplantadas para outros ambientes sociais e políticos, tanto durante a fase final de afirmação da oposição antifranquista como mais tarde, durante a fase de transição para a democracia.
Miguel Cardina
Memórias incómodas e rasura do tempo: Movimentos estudantis e praxe académica no declínio do Estado
Apesar das repetidas evocações consagradas às lutas estudantis dos anos sessenta e setenta, persistem ainda lacunas e mal-entendidos que levam à manutenção de uma memória demasiado selectiva. O presente texto relaciona os movimentos estudantis desse período com as mutações então ocorridas no terreno da praxe académica em Coimbra, colocando em evidência o modo como durante cerca de dois decénios se foi construindo uma forma de estar e agir distante dos tópicos do tradicionalismo coimbrão e até mesmo em ruptura com ele. Simultaneamente, problematiza-se a imagem de um tempo contestatário focalizado quase exclusivamente na "crise de 69", chamando a atenção para algumas margens de esquecimento promovidas pela associação da memória dos combates estudantis dos "longos anos sessenta" a esse momento mais grandioso.
Álvaro Garrido
A Universidade e o Estado Novo: De "corporação orgânica" do regime a território de dissidência
O presente ensaio procura relacionar os discursos do Estado novo sobre a universidade e acerca dos organismos associativos estudantis (a reprodução) com as estratégias de sobrevivência e imaginação do próprio movimento de estudantes (a contestação). Como ponto de partida para uma análise dos movimentos estudantis entre o termo da segunda Guerra Mundial e meados da década de sessenta do século XX tomam-se os estereótipos salazaristas da universidade enquanto "corporação orgânica" do regime ditatorial e a matriz legal das associações de estudantes como "sindicatos corporativos" inibidos de expressar quaisquer conotações classistas. O texto revisita anteriores discussões relativas à emergência do "sindicalismo estudantil" na primavera de 1962, procurando aferir por que modos e razões a universidade se constitui em palco relevante de dissidência do regime, acompanhando as sucessivas crise que a ditadura enfrenta de 1958 em diante.
Nuno Miguel Augusto
A juventude e a(s) política(s): Desinstitucionalização e individualização
A relação que os jovens mantêm com o sistema democrático e, muito particularmente, com os modelos convencionais de participação política tem constituído uma das preocupações fundamentais associadas ao funcionamento e sustentabilidade intergeracional das democracias ocidentais. Frequentemente, a responsabilidade acaba por cair sobre os ombros da própria juventude, tendo por base critérios como a idade, a "irresponsabilidade" ou a "imaturidade", uma explicação que tem vindo a ser repensada nos últimos anos, como resultado quer da crise de representação, quer das mudanças na condição juvenil. Seguindo uma linha de análise assente numa mútua responsabilização (dos jovens e das instituições políticas) procuramos avaliar em que medida a juventude portuguesa reflecte estas tendências e quais os principais motivos para o aparente desencantamento políticos dos jovens. Para tal, cruzámos três dimensões fundamentais -- a mobilização política, a confiança e a participação -- com o intuito de verificar em que medida as hipóteses teóricas mais recentes poderão contribuir para uma explicação sociologicamente mais sustentada da (escassa) relação que os jovens mantêm com a política e com o sistema democrático.
Marcos Ribeiro Mesquita
Cultura e política: A experiência dos coletivos de cultura no movimento estudantil
A temática da juventude vem conquistando importante espaço e destaque nos últimos anos. Sua visibilidade, em grande medida retomada através da mídia e do mercado, é reforçada também pelo aparecimento do protagonismo de novos movimentos juvenis como os jovens da periferia, os militantes altermundistas, os jovens migrantes, entre outros que, num cenário recente, mostram sua vitalidade. Com o aparecimento destes novos atores ganham visibilidade também os movimentos juvenis clássicos, entre eles, o movimento estudantil, que volta à cena retomando seus antigos discursos sobre política e educação, mas que também se adapta às novas demandas estudantis e incorpora outras pautas ligadas aos campos da cultura e da identidade. Neste artigo, pretendemos analisar a participação de militantes estudantis em sua interface com a cultura de modo a compreender as implicações deste diálogo na rearticulação do próprio movimento junto aos jovens. Além disso se analisam também as repercussões que essa relação produz na identidade coletiva de um movimento social -- em contínua construção -- cada vez mais preocupado em diversificar seus discursos e práticas.